Django Livre - Django Unchained (2012)

Django Unchained (Django Livre) é o sétimo filme escrito, produzido e dirigido por Quentin Tarantino. Se você olhar para trás e pensar que esse é apenas o sétimo longa dele, verá que os 7 filmes são sinônimos de sucesso; de crítica, de publico e produções que só agregaram a cultura pop. Sua obra vem de uma crescente desde de seu primeiro filme em 1992. Tarantino nunca teve medo de abusar de cenas que envolvem violência e isso lhe deu uma visão ímpar como cineasta. Ele nos deu momentos únicos no cinema, com cenas em que o vilão se dá mal de um jeito que você sempre quis ver, mas nunca conseguiu pelo pudor de muitos diretores de Hollywood; mas com a grande mente do Sr. Tarantino, podemos nos realizar com os mentos de vingança que sentimos durante seus filmes e com esse não foi diferente. O premiado filme de 2012, teve seu começo muitos anos antes, começando pela criação do gênero que conquistaria a América e o mundo... os filmes de velho oeste.

O BANG BANG ITALIANO É JAPONÊS

É isso mesmo, por mais que os filmes de bang bang ambientados no velho oeste americano, sejam no velho oeste americano, sua história teve origem no Japão. 
Nos anos 60, o cinema americano estava evoluindo, criando sua identidade e se desligando de influências dos cinemas de outros países, principalmente os europeus. Os filmes americanos desde sua origem, sempre tinham referências a algo europeu; sempre havia um britânico, ou alguém comia espaguete, ou citava outros país, ou simplesmente alguma mulher europeia. Apesar de terem acertados por várias vezes com filmes que falavam sobre a origem dos EUA, os americanos ainda não tinha uma identidade muito forte, que fizesse os outros países copiarem seu estilo, diferente de hoje; até porque todo o cinema americano foi construído por imigrantes. 
Em 1961, Akira Kurosawa lançou o filme japonês Yojimbo, que conta a história de um ronin (Samurai) chegando a um pequeno vilarejo que estava sendo disputado por duas facções inimigas, no meio da guerra um jovem, filho de dois idosos, se une a uma das gangues para tentar sair da pobreza, o ronin coloca as duas famílias em uma rixa onde pode acabar com ambas. O filme foi um sucesso e lucrou mais de 2 milhões, o que era muito para a época. Em 1964 o italiano Sergio Leone lançou na Itália Per Un Pugno Di Dollari (Um Punhado de Dólares), estrelado por Clint Eastwood o filme se tornaria o primeiro grande sucesso do gênero de Velho Oeste/Bang Bang, ele só chegou ao EUA em 1967. Na história um homem chega a um pequeno vilarejo chamado San Miguel, que na fronteira do México com EUA, lá duas famílias brigam pelo controle da cidadezinha, o homem decide esquentar a disputa, aumentado a tensão entre as famílias onde poderá acabar com ambas. Parece familiar para você? 
A distribuidora italiana Unidis (responsável pela divulgação do filme na Itália), United Artists (distribuidora americana) e Sergio Leone, foram processadas por Akira e a japonesa Toho, que era a produtora de seu filme japonês em 1961, Yojimbo. Durante o processo, a defesa de Sergio, acusou Arika de plagiar o livro de 1929, de Dashiel Hammett, Red Harvest (Colheita Vermelha); ao meu ver, até existem algumas similaridades do filme de Akira e o livro de Hammett, mas tudo de uma forma muito sútil, que pode até ser levado como coincidência, e foi isso que o júri decretou. Akira e Toho ganharam uma compensação de US$ 100 mil e mais 15% do faturamento mundial do filme italiano.
Após a estreia do filme, vários outros no mesmo estilo foram lançados, o que popularizou o termo "Spaghetti Western" que foi dado por um jornalista espanhol para definir esses filmes que se passavam no velho oeste e eram dirigidos por italianos. 
TARANTINO NO OESTE

Em meados de 2007, Tarantino pesquisava para um livro que estava escrevendo sobre o diretor Sergio Corbucci, que ficou famoso por ter feito mais de 50 filmes do gênero Spaghetti Western; Tarantino percebeu que os vilões de Corbucci tinham sempre um tom de fascismo, que é um movimento que se intensificou cada vez mais na América e nos outros cantos mundo nos anos subsequentes. Um dos temas que mais provocavam a América na época e até hoje, é o passado sombrio do qual ninguém gosta de falar, o racismo; dessa ideia, ele começou a escrever o filme que só ficou pronto em 2011 e foi enviado logo em seguida para a análise da produtora independente The Weinsten Company., que por sua vez se reuniu com Tarantino para começar a fase de pré-produção ainda naquele ano. O filme foi gravado na Califórnia e em Luisiana; onde rendeu vários closes incríveis para a produção de fotografia, que foi dirigida por Robert Richardson. O figurino do filme também não deixou a desejar, graças a mente criativa de Sharen Davis, que se inspirou em séries antigas de tv e filmes do gênero.
Durante seu processo de criação Tarantino bebeu da fonte de vários outros filmes que construiriam o icônico filme de 2012; tais eles como O Grande Silêncio (1968), que é um velho oeste na neve; Hercules Unchained (1959), sobre herói que foge da escravidão; Angel Unchained (1970), sobre uma gangue de motoqueiros que se vinga de um grupo de caipiras; Django (1966), filme onde o herói enfrenta uma gangue que sequestrou sua namorada mestiça; Mandingo (1975), a história de um escravo que treina outros escravos para lutarem pelo entretenimento de seus senhores.
Durante sua produção foram cotados nomes como Will Smith, Michael K. Williams, Tyrese Gibson para o papel do ex-escravo Django, mas quem levou foi Jamie Foxx; Franco Nero que foi o Django no filme de 1966 fez uma participação no filme como um dos carrascos que marcou o rosto de Brunhilde, esposa de Django (Jamie Foxx). O filme foi distribuído pela Sony e
Columbia Pictures
; nele foram gastos US$ 100 milhões para a produção e lucrou mais de US$ 425 milhões se tornando assim uma das maiores bilheterias do diretor americano. Django Livre também foi muito premiado, ele ganhou 5 Oscars, sendo eles de: melhor ator coadjuvante (Christoph Waltz); melhor roteiro original (Quentin Tarantino); melhor filme; melhor fotografia (Robert Richardson); melhor edição de som (Wylie Stateman); e também ganhou Globo de Ouro, BAFTA, BET Awards entre outros. 


O BANG BANG É SOBRE O QUE?

O filme conta a história de Django Freeman, e a busca por sua esposa Brunhilde pelos estados americanos em 1858. O caçador de recompensas Dr. King Schultz precisa da ajuda de um escravo chamado Django para encontrar duas de suas próximas recompensas, após encontra-lo Dr. King o compra dos mercadores de escravos e lhe dá sua liberdade para concluírem o trabalho. Com o êxito de sua primeira caçada, Dr. King, acha uma boa ideia fazer dupla com Django, Dr. King lhe dá treinamento de tiro e aulas de leitura para poder seguir no trabalho e na busca de sua amada.
Com o passar do meses de trabalho e treinamento, Dr. King descobre o paradeiro de Brunhilde, que está na fazenda de Calvin Candie. Um fazendeiro de algodão conhecido por seus maus tratos com os escravos. Django e Dr. King fazem contato com "Monsieur" Candie para encontrar um jeito de resgatar Brunhilde. E apartir daqui que o sangue começa a escorrer no filme.
QUEM DEU ESSE TIRO?

O filme trás em seu elenco principal Jamie Foxx interprétando Django Freeman; Christoph Waltz como Dr. King Schultz; Leonardo DiCaprio como "Monsieur" Calvin Candie; Kerry Washington é Brunhilde, esposa de Django; e Samuel L. Jackson como Stephen, o criado e confidente de "Monsieur" Candie.

O QUE EU ACHEI? (CRÍTICA)

Django é um dos melhores filmes que vi, ele está no meu TOP 10 pessoal desde que o assisti pela primeira vez. Esse longa de Tarantino não te deixa nada a desejar, ele trás bons diálogos, boas atuações, uma boa história, e uma química inconfundível dos atores nas telonas. 
O enredo te ganha bem no começo, quando mostra ao que veio, com o velho modo Tarantino de ser, ou seja, com muitas cenas exageradas e litros e litros de sangue. Não me entenda mal, sou totalmente contra a matança e mutilação de pessoas, mas nesse filme... quando um negro mata um branco ao se defender ou tentar viver a própria vida, acreditem! Você não sente o menor remorso de ve-lo ensanguentado no chão de uma casa grande. 
Foxx e Waltz fazem muito bem todas as cenas de ação, com todo os tiroteios, você consegue perceber todas as emoções que eles estão sentindo durante as matanças, mas a partir do momento em que DiCaprio entra em cena o filme muda o tom para algo mais sério e mais maduro, e ai sim vemos o verdadeiro corpo do filme e seu tema principal, que vai muito além de tiroteios e jatos de sangue que saem do pescoço.

* * * ALERTA DE SPOILER * * * 

Na primeira cena em que DiCaprio aparece ele demonstra toda a frieza de seu personagem "Monsieur" Candie, o acompanhar sua aposta na luta de dois escravos treinados para esse tipo de entretenimento; logo depois na sua primeira conversa com Django vemos uma coisa bastante comum nos dias de hoje sobre "ocupar o seu espaço". Todos nós já ouvimos coisas do tipo "o salário mínimo está muito alto" ou "a minha empregada está viajando para fora do país" ou até mesmo "eu não quero viajar e dar de cara com o meu porteiro". Esses tipos de fala são de pessoas que usam dessas frases para se colocarem acima de outras pessoas por se acharem melhores ou mais bem capacitadas, mas no final dinheiro tem o mesmo valor, e também no final o sangue ainda é vermelho. Candie e o senhor de escravos que disputava contra ele confrontam Django, tentando o diminuir-lo ou coloca-lo em um lugar inferior ao deles. 
Algumas cenas a frente Django derruba um dos capatazes de Candie por tentar inferioriza-lo por ser negro, após a briga com o capataz Django confronta um dos escravos de Candie por olhar para ele, essa cena se refere ao racismo estrutural, onde um individuo que tem um cargo superior olha os outros com inferioridade. Ao se aproximar da fazenda, "Monsieur" manda os cães matarem um escravo que havia sido capturado durante a fuga, nesse momento Dr. King, se interfere para que o escravo não seja assassinado, mas é impedido por Django; nessa que é uma das cenas mais icônicas do filme, nos mostra uma pessoa branca que não consegue lidar com a dor e a maldade que uma pessoa negra está sujeita a sofrer por ser negra naquela época; não estou dizendo que nós negros somos fortes e por isso devemos aguentar mais sofrimento do que os brancos, nada disso, estou dizendo que Dr. King, ao olhar o que um escravo era obrigado a passar pela simples vontade de "seu dono" era uma coisa pesada de se ver, mesmo para ele que matava suas recompensas. 
Ao chegar na fazenda conhecemos Stephen, que é um escravo doméstico (escravos que fazem trabalhos relacionados aos afazeres da casa, como limpar, cozinhar e organizar as tarefas). No caso de Stephen ele era tudo isso e também confidente de Candie, que fora criado por ele. Stephen representa todos os negros que lutam contra o avanço dos direitos civis, que relativizam o assunto por não se importarem ou não precisarem se importar. Com a apresentação da irmã de Candie, apesar de gentil e dócil ainda sim ela é uma mulher "dona de escravos" e nada justificará a empatia por ela. Nas últimas cenas do filme, temos uma participação de Tarantino, que acaba sendo explodido por Django. 
Após a explosão, Django é novamente observado por um escravo, só que dessa vez não por desprezo e sim por admiração. 

* * * FIM DO SPOILER * * *

O longa apesar de aclamado, também foi muito criticado inclusive pelo diretor Spike Lee, que se recusou a ver o filme. Quanto ao debate, eu acho super válido resssaltar que por mais que o filme seja com personagens negros em destaque e protagonismo, ainda é um filme onde os negros são serventes aos brancos, e também um parentesse GIGANTE é que esse filme foi feito por um homem branco. Será que esse filme teria o mesmo destaque, aclamação e premiação se fosse dirigido, escrito e produzido por um homem negro?
Vale ressaltar que ainda é um filme sobre escravos, nós negros somos muito mais que um mero motivo de critica sobre o passado sombrio de muitos países, nós somos muito mais do que SÓ isso.
O filme te trás emoção, ação e um bom debate racial; apesar do filme se passar no século XIX é extremamente atual e vanguardista, com um a estética que te faz reconhece-lo onde quer que seja, sem contar que é sempre bom ver os racistas se dando mal. 

NOTA: ★★★★★★★★★☆ 9 ESTRELAS

VEJA O TRAILER DO FILME ABAIXO:


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